Série Sonhos em quadrinhos
Pintar os sonhos... sonhar pinturas...
O que vem antes, o ovo ou a galinha?
Em mim, não há cronologia possível nesse ir e vir do ver e criar imagens. Pinto o que sonho e sonho o que pinto.
Ao dormir, eu poderia – como faz Agualusa – escrever: “mulher trabalhando”.
Em meus sonhos, a memória da vida, assim como de sonhos vividos é acordada. Lembrar nunca foi um privilégio apenas da vida desperta. Meus sonhos se lembram dos anteriores sonhados, talvez também de posteriores. Nesse meu viver sonho, a memória é via de mão dupla.
Como um outro viver, os sonhos são em mim constantes e presentes no viver “real” – mas quem sabe qual é a “vida real” dentre essas diferentes formas do viver?
Essa vida real é chamada por alguns de ‘estado de vigília’, que o dicionário cunha como ‘ausência de sono’ ... que termo estranho para denominar o viver!
Nessa dita vigília, nossa consciência está alerta ao que nos cerca, ao que pensamos, ao que pensamos que somos. Somos vigilantes, mas, ao mesmo tempo, cegos para outras dimensões de nosso ser. É preciso sonhar para ver. É preciso sonhar para viver. Ao sonhar submergimos, mergulhamos em águas profundas, e lá, em meio à escuridão, encontramos a luz.
A série SONHOS EM QUADRINHOS é um diário visual dos sonhos vividos ao longo de alguns meses, nos anos de 2019 e 2020. Diferentemente de outras pinturas que fiz inspirada nas imagens que me vêm em sonhos, esse conjunto seriado envolve, além de seleção e memória, a determinação de um formato padronizado e pequeno, seguindo a própria padronização da costura do tecido escolhido como suporte. Diante dessa trama quadriculada, eu selecionava imagens e formas pregnantes surgidas no sonho da noite anterior e, como um registro iconográfico e sintético dessa memória, se realizava o pintar/desenhar.
